domingo, 18 de março de 2012

Caso Ana Carolina Bastos Despertando "Revoltas" no Facebook

A divulgação do Abaixo-assinado Meu Cabelo é Bom, Ruim é o Racismo!, relativo ao Caso Ana Carolina Bastos despertou uma "revolta" no Facebook de Renata Farias, amiga de Nonnato Masson, um dos advogados do caso. Vejam o comentário eugenista de Helio Moraes.

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O próprio Nonnato respondeu brilhantemente com um texto que lançamos aqui para reflexão.

"MEU CABELO É BOM, NÃO É SUJO! SUJO E RUIM É O RACISMO! O cabelo crespo (ou cabelo duro) é um símbolo de identidade dos povos africanos e seus descendentes na diáspora, e isso não é de hoje.

Nosso cabelo que por muitos ainda é chamado pejorativamente de “cabelo ruim” tem uma rica e longa história.

Nas culturas africanas, o corpo é um espaço de manifestação artística, a arte dos penteados entre esses povos é antiga, desde o surgimento das primeiras civilizações o estilo do cabelo era usado para indicar o estado civil, a origem da pessoa, a idade, a religião, a identidade étnica, a riqueza e a posição social, em certas culturas, até o sobrenome de uma pessoa podia ser delatado pelo exame do cabelo, criando deste modo, formas únicas para cada clã. [ii]

O significado social do cabelo sempre foi uma riqueza para o africano. Dessa forma, os aspectos estéticos assumiam um lugar de importância na vida cultural das diferentes etnias, o cabelo funcionava como um condutor de mensagens na maioria das sociedades africanas, o cabelo era parte integrante de um complexo sistema de linguagem. Além disso, um estilo particular de cabelo poderia ser usado para atrair a pessoa do sexo oposto ou como sinal de um ritual religioso. [iii]

Os primeiros africanos que aportaram no Brasil escravizados tiveram seus costumes, cores e cabelos menosprezados, taxados de “feios” pela cultura dos “senhores”, que impuseram neste território um sistema de morte, roubo, destruição e exploração violenta da força de trabalho humana.

Dentre as muitas formas de violência impostas aos escravizados estava a raspagem do cabelo. Esse ato correspondia a uma mutilação, uma vez que o cabelo para muitas etnias africanas era considerado uma marca de identidade e dignidade. [iv]

De lá pra cá, muita resistência e muitas lutas sucederam na busca pela liberdade.

Vencida a batalha pelo fim da escravidão a luta passou a ser pela igualdade de direitos e respeito às diferenças.

Nesse novo contexto há uma revalorização da cultura ancestral dos povos africanos, valorizando as características negras e as miscigenadas de afrodescendentes, e sua (re)existência nas Américas entre as quais o cabelo crespo uma das principais características da beleza negra assim como as possibilidades de penteado.

Assumir os cabelos raciais/étnicos é uma atitude que acompanha os processos de conquista do direito cultural e do direito à cidadania. Os penteados dos descendentes de africanos formam verdadeiras esculturas sobre cabeças. São retratos de vários povos e civilizações duas margens do Atlântico (África/Américas) que se tocam simbolicamente e se falam pela profunda identidade que as unem. [v]

Nessa tendência cresce entre a população um sentimento de naturalização dos cortes, trançados e penteados afro. Black Power (norte americano), dread look (jamaicano) e trança nagô, são referências de elementos da estética afrodescendente já incorporados ao vocabulário da população negra, todos de forte influência em São Luís.

No Brasil as culturas africanas se adaptaram e se remodelaram. Ou seja, alguns significados deixaram de existir ou foram reinventados, assim como as técnicas, que apesar de alteradas, resistiram ao tempo e espaço, construindo e reconstruindo uma identidade nacional para os povos negros do país.

A força simbólica do cabelo crespo para os africanos continua de maneira recriada e ressignificada entre nós, seus descendentes.

Os cabelos crespos e as formas possíveis de penteados assumem para o africano e os afrodescendentes a importância de resgatar, pela estética, memórias ancestrais, memórias próximas, familiares e cotidianas. [vi]

Quem usa seu cabelo naturalmente crespo é identificado, consciente ou inconscientemente, por onde anda como sendo alguém que assume sua negritude, que tem orgulho de sua herança africana.

Ao contrário do que uma ideologia racista apregoa o cabelo crespo não é ruim, tem uma longa história, já foi cativo nesta terra e por sua luta hoje é livre.

Solte-o e prenda o racismo!"

Não satisfeito, o ofensor ainda permaneceu a retrucar, mesmo após os protestos também de sua amiga.

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Resta esperar que medidas serão tomadas pelos advogados da vítima de novo ato de discriminação. São as máscaras caindo no país da democracia racial.



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