domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves

Caro Ziraldo,
Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?" e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).


 Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endossa : "Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente". 

Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro "O presidente negro ou O choque das raças" que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois: “Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha".
Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: "Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos". Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura. 

Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa: "Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como “o Lamarca do nanquim”. Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos como “o subversivo da caneta Pilot”, houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem – e de bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".
No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de quem é considerado inferior. "Em que estado voltaremos, Rangel," se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões". Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.


O que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para ilustrar a Cartilha de Direitos Humanos encomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: "O único jeito de uma sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as crianças crescerem." Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.
A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo: "O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo (...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).
Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de "macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. "Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem, estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola, começam a tirar notas baixas porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.
Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele: "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável". Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de Caçadas de Pedrinho. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo racismo.
Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "(…) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa”. Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, "negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão", e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja aplicação você chama de censura.





Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: "Suas criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais." É isso. Nos livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que "faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças." Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente. Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem. Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar. 


Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão", "vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que "Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos”. Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: "Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também diz, "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos." Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer: "Só dói quando eu rio".

Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,
Ana Maria Gonçalves
Negra, escritora, autora de Um defeito de cor.

Fonte: http://www.idelberavelar.com/archives/2011/02/carta_aberta_ao_ziraldo_por_ana_maria_goncalves.php

Ziraldo e Lobato no desenho do racismo à brasileira


                                                            Heloisa Pires Lima (1)
Dois monstros sagrados, ícones da produção editorial voltada para o público infantil e juvenil, acabaram reunidos numa mesma polêmica acerca do racismo no Brasil. O poder inegável do que representam para a sociedade, parecia, até o momento, ter o reconhecimento das massas, do Estado ou da mídia de capital privado. Mas, se a sacralidade lhes atribuída já adquirira a condição de perene, vimos aparecer o lado monstruoso dessas moedas valiosas.

Ano de 2010. Em novembro, um manifesto pró Monteiro Lobato circulou em nome da falsa idéia de suas obras haverem sido proibidas pelo governo às vésperas de uma eleição. Longe disto, o parecer assinado pela conselheira Nilma Lino Gomes com o aval, por unanimidade, dos demais analistas do Conselho Nacional de Educação recomendava um conjunto de ações frente ao teor racista localizado na obra Caçadas de Pedrinho (original de1933). A partir da distribuição do título pela Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal um educador, mais atento, toma a iniciativa de protocolar à denúncia. A análise, de instância a instância acabou pauta para o CNE que chamou para si a responsabilidade de emitir o parecer com as sugestões. O critério considerou o objetivo de promover uma educação anti-racista que prevê a formação do educador para lidar com o assunto.

O viés eleitoral amplificou o caso com manchetes do tipo “querem proibir Lobato para as crianças”. Foram inúmeros adeptos da hora a multiplicar o arsenal de matérias em defesa do escritor. Os blogs reprodutores de artigos afiados no desejo de interpretar o momento impuseram o assunto. Os grandes jornais, revistas, programas radiofônicos, televisivos, enfim, tiveram à disposição uma pauta embasada em manifesto tornado celebridade. Somente a voz dos conselheiros demorou para ganhar o interesse da grande mídia. Até o ministro da educação, paradoxalmente, emitiu opinião informal antes de ouvir o próprio CNE. Mas em pouco tempo a espetacularização foi serenando, tornando cada mais insustentável a defesa do racismo em nome da bio-bibliografia de um autor. O debate amadureceu nos meios de comunicação com elementos inéditos para o grande público flexibilizando o juízo de valor anterior. E eis que, enquanto a posição definitiva e oficial do MEC estava ainda sendo aguardada para encerrar o caso aberto lá atrás, surge a ação protagonizada pelo cartunista Ziraldo. Numa tentativa de se adiantar ao ministro, o ponto final da polêmica, na concepção que ele adotou, foi desenhar um bem vestido Lobato agarrando uma mulata de poucas vestes para a estampa de um bloco de carnaval no Rio de Janeiro.


Não fosse a provocação do tema, a livre expressão do cartunista tinha tudo para reacender os melindres acerca da representação da mulher negra. Não fosse suficiente, a gracinha ficou mais animada com a voz na imagem, em off, do próprio Ziraldo, que afirma:

- Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A idéia é acabar com essa brincadeira de achar que a gente é racista - revela o cartunista.


O pau do gato

O chiste é plausível na vida intelectual. A espirituosa capacidade de rir de si mesmo ou de realizar junções inesperadas, o duplo sentido, o trocadilho são jogos que a linguagem permite para sutilezas bem construídas. No entanto, não há nada mais desagradável do que uma piada sem graça. Maldita, então, é a jocosidade ofensiva. O humano é capaz de exacerbar fragilidades emocionais produzindo prazer para si e para o público para o qual exibe a própria esperteza. Somente a sensibilidade crítica inibe esse tipo de prazer. O dado de realidade localiza o impulso e tem força para a suspensão do conteúdo que agride. A percepção da dor do outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença é o princípio da alteridade, noção cara para os dias atuais.

Por isso a “gracinha” de Ziraldo soou como um tapa na cara, sobretudo, pela maneira displicente de referir o racismo que atinge a cidadania da população negra no país. O golpe veio acompanhado pela asneira conceitual que pressupõe racismo com ódio e sem ódio. Mas a excrescência teve troco. A densidade e o estilo conhecido das análises definitivas da ágil intelectual negra Ana Maria Gonçalves (2) foi a reação mais precisa. Outra, o isolamento do cartunista carente de eventuais defensores públicos da “carnavalização do racismo”.

O vínculo entre os escritores pode se tornar um marco para a atenção sobre o racismo quando sobreposto à sociedade brasileira. Todavia, a etiqueta racista entregue a um ou a outro esgotaria o evento nele mesmo. Certamente, Ziraldo não está sozinho na sua livre expressão. É comum os pleitos racistas invocarem a liberdade de expressão associada à condenável idéia de censura. Esta é uma das nuanças do deixe meu politicamente incorreto em paz, como se a criação artística não devesse satisfação nem ao constrangimento que possa submeter seja ao gato, ao urubu ou à infância negra. Se a razão do Estado é garantir a proteção e a defesa dos incluídos em seu território, a cidadania é livre para agir mas deve responder pelas conseqüências dos seus atos. Os aperfeiçoamentos legais conquistados arduamente são demandas que partem de argumentos culturais.

Portanto, não há como considerar irrelevante a violência difundida por meio de aparentemente ingênuas obras ou o mapa da violência 2011 que demonstra o extermínio de jovens negros. É evidente, o pensamento estampado na camiseta vinculado ao slogan- “não somos racistas”- na engraçadinha mensagem a circular no carnaval. Ele Ao não reconhecer a história particular da parcela negra da população do país atrasa intervenções para superar desigualdades que a atingem. E mantém privilégios.

E com a “mulata” impressa, Ziraldo consegue animalizar mais ainda a mulatisse das mulas que a semântica oferta às moças negras. Despida da história do uso semântico para racismos criadores de hierarquias entre mulheres reais, a do desenho está numa situação pior do que a do gato que segura numa das mãos o pau enquanto a outra lhe passa a mão na bunda.

O argumento implícito defende que não ser racista é sair ridicularizando uma pedagogia anti-racista. A indignidade sexista recupera ainda, a contenda da miscigenação, ora exaltada, ora condenada como síntese sociológica do Brasil. A máxima de sermos todos mestiços, concepção, aliás, soberana em princípios racialistas a priorizar o aspecto genético da questão, está aí dimensionada. Essa conotação social do feminino negro o transforma em categoria apaziguadora, de conflito racial. É a mesma lógica presente em teorias do relacionamento harmônico que tendem a evidenciar a felicidade do convívio inter-racial nas ruas e a silenciar no que diga respeito à segregação dos mesmos nas esferas de poder do país. A evidente desigualdade para acessos sociais e as iniciativas que afirmem a condição da diferença na escala dos fenótipos tem sido um importante desafio para a sociedade compreender, demandar e alterar padrões de poder no país. O principal entrave está nas visões que apenas consideram o fator classe para o desdobramento de políticas universalistas gestadas pelos governos. Para o Estado, a nuança da história da escravidão e suas conseqüências para os que dela descendem é uma variável particular na administração do bem comum.


O racismo nativo e o informante

Se os dois atores em questão podem ser vistos como dimensionamentos do racismo enrustido ou explícito, condenado ou negligenciado na sociedade dos nossos tempos, a inesperada reunião propicia uma circunstância singular; a de serem sujeitos nativos e informantes de conteúdos vinculados ao setor editorial.

Essa dicotomia é central para o saber antropológico, área que adotei como profissão. A problemática relação nativo-informante faz lembrar a busca de sistemática fundamentação a lançar luzes sobre o intercâmbio entre argumentos culturais e produção de conhecimento. A revisão incessante das teorias consideradas monólogos discursivos tiveram para exame as contingências imperialistas, colonialistas e tantas outras itas imbricadas nesse conhecer. Os inúmeros alertas confirmaram ao menos uma certeza: somente o acesso à produção garante o espaço para pontos de vista. O embate de idéias é a única e a mais louvável das lapidações em prol da democracia a gerar o saber compartilhado. E quando se trata de considerar a perspectiva infantil em seu movimento de ser informada pelo mundo e sobre o mundo? No caso brasileiro, podemos nos dar conta do imenso espaço que Lobato e Ziraldo ocupam na cabeça de várias gerações de brasileiros, o que ressalta o tema da presença negra na história editorial. As figurinhas negras elaboradas por suas mentalidades fazem parte do imaginário que produziram abundantemente quase como um monólogo promovido e consentido. A representação ofertada por esses autores quase não teve contraponto.

Mas ainda pensando em pólos opostos é hora de recordar o fato de sermos mais complexos que a teoria. Se a filiação ao partido político pode enviesar o julgamento de um relatório do MEC, o que dizer dos males da xenofobia? Reveladas as idéias racistas de Lobato, como o fez, recente e brilhantemente, Ana Maria Gonçalves examinando inclusive o acervo de cartas do escritor, a análise da produção do autor ganhou em redimensionamentos. Não há como negligenciar que para a história da presença de personagens negros no universo da literatura infantil os textos que ele produziu, foram inovadores, assim como o valor positivo para gênero, ou o protagonismo do idoso e outros aspectos que o exame atento pode, infinitamente, revelar. Caso o foco seja a ilustração de seu material, lá também está a Nastácia pelas mãos de Voltolino recebendo tratamento visual mais equitativo do que se poderia esperar quando relacionada à Benta.


O contrário também é exemplar. Uma leitura contemporânea das edições, ilustradores a fora e além da época original, reserva as mais grotescas formas da personagem. Idiotizada, bestializada, animalizada, inferiorizada sob todos os aspectos, tornando-a monstrenga, suja o que facilmente contrasta com a composição das demais figuras.

O dado, sem dúvida, tem muito a dizer a respeito da livre circulação de preconceitos para as gerações de diferentes contextos. Ziraldo, com seu trabalho O menino marrom (1986) produziu uma narrativa datada deixando por testemunho a dificuldade do cartunista em construir um personagem negro bonito. E ele cumpriu a tarefa reservando o cuidado gráfico ao personagem. O testemunho, dessa vez, é a dificuldade em desenhar um menino negro. Negro não; marrom. A estrutura da obra testemunha que nos anos 1980 ainda não havia meninos negros bonitos retratados nos livros. Também deixa dicas sobre a resposta da época em afirmar a identidade negra. A interlocução com o menino cor de rosa reduz a densidade da história pela da cor.

 É um ângulo para lidar com a questão. É provável que tanto Lobato quanto Ziraldo precisaram localizá-la para traçar mapas, itinerários e rotas de viagem em terras desconhecidas como a de facultar seus modelos de humanidade negros. Da para imaginar os dois submetidos a uma série de circunstâncias políticas e de logística expedicionária durante o processo de suas criações. E, se muito se sabe das práticas coletivas de atribuir significados aos povos negros pelos não tão negros pouca é a investigação dos processos em que a paisagem humana negra vai surgindo no universo desconhecido do explorador. E é nessa brecha o destaque para a força dos personagens em sua soberania a propor conteúdos para a autoria. Na verdade, as Nastácias ou o Barnabés lobatianos são expressões da narrativa popular se impondo. O autor se serviu de saborosa fonte para as suas elaborações. O menino negro apesar da assimetria com o cor de rosa também conquistou sua visibilidade. E todo o escritor sabe que a construção do sentido literário nunca é unilateral. Ela indaga e negocia, o tempo todo, com a criação. O personagem, como espessura inconsciente, adquire vida, espaço e autonomia. Incluir a imagem da população negra por Lobato e Ziraldo é uma condição advinda do contato com o tema já que antes ele não havia. Apesar das concepções racistas, é a demanda por um protótipo negro que chama a atenção para si a ponto de entrar para o livro. E é esta soberania que torna notória ausência da imagem como nativos e/ou informantes para dar a conhecer o mundo.

O outro lado dessa mesma moeda é a presença de escritores negros no cenário das publicações. A existência negra expressa na literatura pouco abasteceu bibliotecas, videotecas, acervos de brinquedos. O racismo editorial recaiu com a mesma violência sobre potenciais autorias negras. Embora o personagem, mas também o autor negro seja como heróis da jornada contra o preconceito. A desigualdade fora é a mesma dentro das cenas ficcionais. Mas as mudanças não ficam esperando apenas a boa vontade do setor.

Em pleno século XXI, não fosse o educador bater na porta do MEC, os conteúdos do livro de Lobato, continuariam pouco problematizados. Da mesma forma o tabu de questionar seja quem for o autor consagrado nas bibliotecas escolares. Por sua vez, não estariam colocadas na mesa as indagações extensivas como o acesso à produção diversificador de pontos de vista. Não havendo confronto, a ignorância lúcida ou ingênua é mantida e não conseguirá identificar a dor do racismo. A “mulata” impressa na camiseta, no entanto, se olharmos bem, ela começa a falar da violência da assimetria que a posicionaram e que está ali sufocada e constrangida. A passividade simbolicamente sugerida, no entanto, acabou tridimensionalizada na realidade. A entrada da internet como variável para os principais polêmicas nacionais tornou o nativo informante e aponta a precariedade da dicotomia. Este é um ponto de virada.

O racismo, enfim, é um desafio para todas as sociedades e todas as esferas. O acervo para criança é extensão do livro acadêmico. A prevalência de fórmulas racistas em obras, aparentemente ingênuas, também expressa a falta de analistas formados para a temática. A tecnologia, consenso para aperfeiçoar o desenvolvimento do país deveria tornar mais apto o saber acerca do racismo. Assunto de impacto, a tecnologia das relações raciais ocupa qual o espaço no gerenciamento da ciência produzida no país? A gestão de financiamento da pesquisa em centros universitários necessita atentar para a diversidade e equanimidade que a acompanha. O investimento e a inovação tecnológica voltada para as dinâmicas raciais, no sentido político, é a estampa que o Brasil demanda ver passar nas suas avenidas.


(1) Antropóloga com mestrado e doutorado obtido na Universidade de São Paulo. Também escreve para crianças e é consultora para os episódios do Livros Animados- Programa A corda cultura- TV Futura.

(2) Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mumia Abu-Jamal – Ao Vivo Do Corredor Da Morte (Parte 1)

Esse artigo será dividido em duas partes, a primeira consistirá de uma breve apresentação sobre o tema e tem o intuito de expor o processo de Mumia; a segunda será uma dissertação sobre o livro que o mesmo escreveu.



No hoje distante dezembro de 1981, Mumia Abu-Jamal, jornalista negro, foi preso acusado de matar um policial branco. Ninguém imaginava que ali se iniciava um dos mais dramáticos e controversos casos da história dos tribunais norte-americanos.

Nascido em abril de 1954, nos Eua, Mumia tem hoje 56 anos e está a 28 anos no corredor da morte. Porém para entender como ele foi mandado para lá, deve-se voltar a sua juventude. Suas atividades político-militantes começaram muito cedo, aos 14 anos já era membro fundador, da seção da Filadélfia, do partido dos Panteras Negras (saiu seis anos depois); com apenas 16 anos começou a trabalhar naquilo que mais gostava, o jornalismo, no Jornal dos Panteras. Durante a década de 70, Mumia publicou vários artigos criticando o Depart. de Polícia de sua cidade, isso contribuiu para fazer dele um “homem a se observar” e ganhar o apelido de “a voz dos sem vozes”. Em 1978, suas opiniões fortes lhe custaram o emprego de jornalista em uma emissora de rádio, teve de trabalhar como taxista durante a noite para complementar sua renda. E foi dentro de seu táxi que Mumia se deparou com a fatídica noite de 09 de dezembro de 81.


A Cena do Crime

A polícia encontrou Daniel Faulkner, o policial, e Mumia caídos no chão, ambos baleados. Ao lado de Mumia estava sua arma, ele tinha porte, pois foi vítima de roubo em seu táxi.


Os Fatos

Durante uma blitz, o policial parou o carro de William Cook, irmão de Mumia. Este estava com seu táxi estacionado próximo e chegou ao local após seu irmão ser agredido por uma lanterna. Esses fatos não são contestados por nenhuma das partes, porém a concordância encerra-se aqui.

Mumia declarou que estava dentro de seu táxi quando avistou uma viatura da polícia e ouviu barulho de tiros, quando percebeu que seu irmão estava sendo abordado correu até o local e foi baleado por um policial. Ele não lembra do que aconteceu entre ser baleado e a chegada dos demais policiais. A defesa acredita que outro homem atirou no policial fugindo em seguida.

A promotoria alegou que William agrediu o policial primeiro, este estava tentando se defender quando Mumia surgiu correndo e atirou em suas costas; mesmo ferido gravemente ele conseguiu acertar Mumia. Então Abu-Jamal efetuou mais dois disparos a queima roupa, um deles no rosto do policial, como não conseguiu fugir ele ficou caído na calçada.


As Irregularidades Processuais

Todo o processo de Mumia é marcado por inúmeras falhas desde o início. Na escolha do júri, o promotor utilizou onze das suas quinze recusas que tinha direito para retirar jurados negros. O júri foi formado por uma imensa maioria branca 10/2. Mumia foi privado de assumir sua própria defesa e recebeu um defensor público inexperiente que o defendia a contragosto. O juiz do caso era o homem que até então tinha condenado mais pessoas à morte. O perito que fez o exame de balística não conseguiu provar que a bala que foi encontrada no corpo do policial saiu da arma de Mumia. Além das testemunhas que o inocentavam não serem aceitas no processo.

A hipótese do promotor baseava-se no argumento de quatro testemunhas chaves: dois homens que declararam terem visto Mumia correr até o local onde seu irmão era agredido e após isso se iniciou os disparos, porém eles não conseguiram ver quem atirou no policial; um taxista que estava parado atrás da viatura policial disse aos policias que viu o homem que efetuou os tiros, 1,90m e 110k, fugir da cena do crime, Mumia tem 1,80m e 80k. No entanto, no julgamento ele mudou a versão e disse que o suspeito não fugiu do local, em vez disso se sentou na calçada onde Mumia foi encontrado, estendido no chão e sangrando. O juiz escondeu do júri que essa testemunha estava em liberdade condicional por ter jogado um coquetel molotov numa escola pública em troca de dinheiro, talvez ele alterou a versão em troca de favores do promotor ou simplesmente por medo. O testemunho mais comprometedor foi o de uma prostituta que contava com mais de 35 passagens e durante o processo estava presa, ela declarou ter visto Mumia atirar no policial por trás e depois quando ele estava no chão. Uma outra prostituta que trabalhava no local declarou que o promotor fez a ela a mesma proposta que a primeira aceitou, ser deixada em paz pela polícia se testemunhasse contra Mumia.

Mesmo o júri aceitando a tese do promotor para condenar Mumia à morte faltava o elemento de premeditação. Para entender como um júri que estava dividido entre homicídio em 3° grau e homicídio involuntário escolheu a pena de morte deve-se analisar a última fase do processo.

Violando completamente os direitos constitucionais de Mumia, o promotor apresentou informações sobre seu passado político como membro dos Panteras, bem como uma entrevista que Mumia havia dado aos 16 anos. Sua intenção era retratá-lo como um militante negro radical diante de um júri de imensa maioria branca. Após usar tons dramáticos e acusadores na mostragem das informações, o promotor concluiu que sua história política e seu desrespeito ao sistema levaram Mumia a matar o policial. Lembrando que o mesmo nunca tinha sido preso por nenhum delito. Resultado, decisão unânime, condenado à morte. Ficou evidente que sua ideologia e o que representava foi o fator determinante para ser condenado à morte.



Atividades Pós Condenação

Duas ordens de execução já foram marcadas para Mumia, mas ele escapou das duas. Todas as apelações e os recursos que a defesa utilizou pedindo um novo julgamento foram recusados pelos tribunais. Enquanto isso, inúmeros protestos pelo mundo pedem sua liberdade. Sua sentença chegou a ser mudada para prisão perpétua em 2008, porém logo essa decisão foi revogada. Existe uma petição online, feita pela defesa, pedindo um novo julgamento e quando atingir certo número de assinaturas será entregue ao Presidente Obama.


“Eles não querem só minha morte. Eles querem o meu silêncio.” M. Abu-Jamal



Continua..

Site Afrocentrado: Samorim

Em tempos de guerra, surgir um novo conceito cultura... SAMORIM Cultura e Arte Visual!

Lá vocês encontram diversas Crônicas Culturais.

Crônicas Postadas:

►Crônicas de um negro Fugido!

►Os Guettos se falam!

►Curtas das crônicas!

►Lei que pega!

Visitem: samorim.com.br

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Documentário "A Negação do Basil", de Joel Zito de Araújo

Nestes tempos de polêmica racial por conta por conta da atuação de Lázaro Ramos na novela das oito, lembramos o importante documentário "A Negação do Brasil", sobre a presença de personagens negros nas novelas brasileiras entre os anos 60 e 90. Lembrando que o autor tem um trabalho acadêmico homônimo, que aprofunda esta  discussão.















sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A vida oculta das "Mulatas"

Um documentário mostra como elas são depois que o show acaba. Não é como nas fantasias
Martha Mendonça
SOLITÁRIA
Rose Bombom na quadra da Grande Rio. O trabalho de mulata show atrapalha a vida amorosa
Estrela da escola de samba Grande Rio, a passista Rose Bombom, de 21 anos, esbanja simpatia e beleza. O contraste da pele negra com os olhos verdes é raro e espetacular. Registrada como Rose Claudia dos Santos, ela tem porte de princesa, mas mora num barraco na Favela Parque Centenário, em Duque de Caxias. Ela ajuda a avó – com quem mora desde os 8 meses, quando foi abandonada pela mãe – a sustentar oito primas menores. Namorado, faz tempo que não tem. O último terminou por causa do samba. “Ele falou: ‘Se você me amasse, largaria tudo’.” Rose preferiu ficar sozinha. “Ser mulata é uma coisa que está no sangue. Já vem de pequena”, diz ela, misturando cor e personagem, origem e profissão.

O cotidiano das chamadas mulatas show, aquelas que trabalham sambando, aparece pela primeira vez no documentário Mulatas – Um tufão nos quadris! , do diretor Walmor Pamplona. Em primeira pessoa, elas contam suas histórias. Falam de família, vaidade, religião. E de trabalhos que não têm tanto glamour, mas complementam o orçamento doméstico. São pessoas reais. Suas histórias desmentem o estereótipo e mostram como as mulatas se tornaram uma espécie de produto. Ser mulata exige, nos dias de hoje, muito mais do que exibir cor e traços intermediários entre o branco e o negro. A mulata do imaginário popular, que faz sucesso no samba e na televisão, tem, além do corpo escultural, habilidades de dançarina e talentos de atriz. Não apenas para sorrir o tempo inteiro. Mas para encarnar, de forma convincente, um personagem que pouco tem a ver com sua existência.

Ana Pérola, de 24 anos, é um bom exemplo das contradições entre a mulher e o mito. Ela estrela os shows noturnos da Mocidade Independente de Padre Miguel. À noite. Durante o dia, é gari no Rio de Janeiro. O uniforme laranja da Companhia de Limpeza Urbana é bem diferente do biquíni de paetês e das plumas que ela usa quando se apresenta. “As pessoas pensam que para ser mulata basta vestir um biquininho e sambar”, afirma ela, cujo nome verdadeiro é Ana Lúcia da Silva. Rafaela Bastos, de 29 anos, passista da Mangueira, fez faculdade de geografia. Amante dos livros, gosta de pensar a mulata através da história. “Tudo isso vem da escravidão. Os negros eram comprados por sua força e beleza”, afirma.

Rafaela tem razão. Esse tipo físico de brasileira mestiça ganhou prestígio devido aos fetiches escravocratas – que, de alguma forma, permanecem. Filha do branco descendente de portugueses com a negra trazida da África, a mulata virou símbolo de sensualidade e permissividade. No século XVIII, Gregório de Matos escrevia sobre a intensa atividade sexual das mulatas na Bahia. Na virada para o século XX, Aluísio de Azevedo reforçaria esse símbolo com sua Rita Baiana, de O cortiço, uma das personagens mais famosas de nossa literatura. Descrita como bonita e sensual, era comparada pelo autor a uma “cadela no cio”.

Um das coisas que o documentário de Pamplona deixa claro é que, às vezes, a mulata sedutora pode ser apenas ficção. Tânia Bisteka – Tânia de Fátima Souza Lima –, de 36 anos, casou-se com o homem que amava, mas o flagrou com outra mulher quando estava grávida de cinco meses. Com o choque, perdeu o bebê e nunca mais quis ter filhos. Sônia Capeta, da Beija-Flor, destrói outro tabu. Aos 50 anos, Sônia Maria Regina da Silva, a ex-rainha de bateria, revela que, depois de decepções amorosas com homens, agora vive com uma mulher. “É igual, o amor é o mesmo”, diz. Apesar da cintura fina e do quadril frondoso, uma mulata nunca é igual a outra.

Se a vida real das mulatas reflete a pródiga diversidade humana, o papel que elas interpretam no imaginário nacional é sempre parecido. A mulata lasciva do Brasil colônia foi sucedida pela mulata fogosa do Brasil imperial. Agora, virou a mulata show do Carnaval e da televisão. Lançada pelo teatro de revistas, essa é a mais recente encarnação do velho mito. Foi lançada por Carlos Machado, que começou a colocar mulatas em seus espetáculos. Elas fizeram sucesso, e a moda chegou às escolas de samba, que já tinham passistas. “Hoje, mulata é uma profissão, que exige talento e disciplina”, diz Sérgio Cabral, especialista em Carnaval.






Idealizador e roteirista do documentário, o jornalista Aydano André Motta diz que, ao longo da pesquisa, percebeu o preconceito em relação à expressão artística das mulatas. “Poucas pessoas olham para elas como artistas de verdade”, afirma. Por isso, muitas mulatas tentam reconhecimento – e dinheiro – como dançarinas fora do Brasil. Uma opção que tampouco é fácil. Elaine Ribeiro, de 28 anos, ex-rainha da Porto da Pedra, saiu do Brasil aos 18. Morou em diversos países, sempre dançando. Viveu por seis anos na Itália. Nem sempre tinha dinheiro. Voltou sabendo falar três idiomas. Hoje trabalha em um hotel, no Rio de Janeiro. Dandan Firmo, de 28 anos, do Salgueiro, mora no Morro do Vidigal. Também já tentou o exterior. Por um ano, viveu em Moscou. “Passei frio e muita solidão”, afirma. Havia dias em que ela não podia sair de casa por causa dos ataques de skinheads. “Eles não toleram gente de outra raça e imigrantes.” O Brasil mais do que tolera as mulatas. Admira-as mesmo, mas talvez ainda não as entenda direito. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Uneb implanta História e cultura brasileira e africana: licenciatura inédita inicia aulas em março

A UNEB reafirmou mais uma vez seu pioneirismo na adoção de projetos de reconhecimento e valorização das populações negras. A partir do mês de março, vão ter início as aulas da primeira turma da licenciatura em história e cultura brasileira e africana, graduação inédita no país, que está sendo ofertada no Campus V da universidade, em Santo Antônio de Jesus.

O curso, vinculado ao Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor/Plataforma Freire), do Ministério da Educação (MEC), é executado na UNEB por meio da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd).

A proposta de implantação da licenciatura foi apresentada pelo Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia) da universidade e pelo grupo de pesquisa Firmina, vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PPG) da instituição acadêmica.
“Apresentamos o projeto da graduação para o reitor Lourisvaldo Valentim e para o pró-reitor José Bites (Prograd), que abraçaram a ideia e submeteram-na à aprovação do colegiado do curso de história e do Departamento de Ciências Humanas (DCH) do Campus V no final do ano passado”, contou o diretor do Cepaia, Wilson Mattos, ex-pró-reitor da PPG. 


Segundo Wilson, que também exerce a função de assessor especial da Reitoria, a graduação contribui para a aplicabilidade da Lei federal 10.639/2003, que torna obrigatória a inclusão de temas relacionados à história e cultura afro-brasileira na rede pública de ensino do país.

“A UNEB tem promovido uma série de atividades, a exemplo de seminários, palestras e cursos de extensão, com as temáticas exigidas pela lei. Mesmo assim percebemos a carência de docentes nessa área e decidimos pela criação do curso”, explicou o diretor do Cepaia.

A licenciatura, com duração de três anos, é coordenada pela professora do Campus V Ana Rita Machado, que também está à frente do colegiado de história da unidade.

O objetivo do curso, segundo Ana Rita, é atender docentes do ensino fundamental e médio das redes municipais e estadual da região cadastrados no Parfor.

Neste domingo, dia 13, às 13h, ocorreu a seleção para a primeira turma da licenciatura. Cerca de 150 professores vão concorrer a 50 vagas. As provas, que foram aplicadas no DCH, integram o processo seletivo classificatório da Plataforma Freire (confira edital).

O curso de licenciatura em história e cultura brasileira e africana tem o apoio da Prefeitura Municipal de Santo Antônio de Jesus.
Informações: Coordenação do Parfor na UNEB – tels. (71) 3378-6200 e 3288-1137.

Fonte: UNEB

ADIAMENTO: DO PROTESTO NO SUPERMERCADO EXTRA PENHA

Em virtude da passeata organizada pelo artista cubano Pedro Bandera que divulgamos aqui o protesto no Supermercado Extra foi adiado. Posteriormente será divulgada a nova data. Esta foi uma forma de fortalecer a passeata já marcada anteriormente e ter um público maior na mesma.

Relembrando que a passeata, convocada por iniciativa do próprio músico está marcada para sábado, dia 19/02, às 12h, e terá como ponto de encontro a frente do Shopping, que fica na Av. Magalhães de Castro, próxima à Marginal Pinheiros, Morumbi, bairro da Zona Sul de S. Paulo.

Compareçam.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Passeata contra Discriminação

Indignação e passeata

S. Paulo - Uma passeata, que pretende reunir pessoas solidárias à luta contra a discriminação em shoppings, bancos e supermercados, marcará os seis meses do ato de racismo sofrido pelo músico cubano, Pedro Bandera, alvo de maus tratos por parte de seguranças do Shopping Cidade Jardim. Leia mais.
A passeata, convocada por iniciativa do próprio músico está marcada para sábado, dia 19/02, às 12h, e terá como ponto de encontro a frente do Shopping, que fica na Av. Magalhães de Castro, próxima à Marginal Pinheiros, Morumbi, bairro da Zona Sul de S. Paulo.

Bandera é formado em Pedagogia, em Cuba, e tem formação como percussionista e professor de música. No Brasil, há seis anos, e atualmente vivendo em S. Paulo, ele já trabalhou com artistas de renome no cenário musical brasileiro, como Pepeu Gomes, André Jung, Edgar Scandurra (ex-Ira), Luiza Maitá, Karina Buhr, Marina de La Riva e João Gordo, entre outros.


 Barrado

No dia 28 de agosto do ano passado, quando se dirigia a Livraria da Vila, como integrante da banda que acompanharia o show de apresentação do DVD da cantora Marina de La Riva, foi barrado por seguranças.

“Dois vieram ao meu encontro de maneira hostil, agressiva. Um deles falou que eu não poderia entrar sem me explicar o motivo de tal restrição. Expliquei o motivo da minha presença no local e mesmo assim ele questionou e, apontando para mim, ainda que tentando ser discreto, comentou com o outro: “Estão suspeitando desse indivíduo porque ele está falando que veio fazer um show, mas anda de táxi e ninguém viu seus instrumentos!”, relembra.

O músico pediu, então, a presença do responsável pela segurança do Shopping, ouvindo de quem o barrou a seguinte resposta: “Você é estrangeiro e não sabe que este shopping foi assaltado duas vezes? Quem te mandou entrar, quem te autorizou a entrar?”

Em seguida, ele fez contato com os membros da banda, que desceram em seu socorro. “No momento da chegada de um membro da banda, já tínhamos saído do interior do prédio e nos encontrávamos no estacionamento diante do táxi, onde eu, indignado, disse: "Olha vocês que falaram que ninguém viu meus instrumentos, eles estão aqui!, tirando-os do táxi", relatou.

Mesmo assim, os seguranças continuaram tentando evitar a sua entrada no Shopping, o que só aconteceu depois da intervenção da produtora da banda, do pessoal da livraria e dos músicos. Bandera disse que relatou o ocorrido à administração dois dias depois, porém, nunca teve resposta.

O músico cubano procurou a Delegacia de Crimes Raciais (DECRADI) onde registrou Boletim de Ocorrência e também procurou o Centro de Estudos das Relações Raciais e do Trabalho (CEERT), onde o caso está sendo acompanhado pelo advogado, Daniel Teixeira.

Fonte: AfroPress

Convocação negros de São Paulo para protesto!

Lembram do caso do garoto que sofreu discriminação no supermercado Extra que postamos aqui ?Pois bem, existe uma mobilização via Orkut para organizar um protesto no local. As informações são as seguintes:


20/02/2011 - às 15:30
Em frente ao Extra Penha

Endereço:

Avenida São Miguel, 962
Vila Marieta
São Paulo - SP


Para saber mais  acesse Comunidade COnsciência Negra

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Estudantes da 7º série transformam lenda africana em filme

Com projetos criativos é possível enfrentar parte do desencanto com a escola. Foi assim que a professora da 7ª série, Maisa Paes de Almeida, do Centro Educacional Unificado Vila Atlântica, periferia de São Paulo, conquistou seus estudantes. Usando massinha, uma máquina fotográfica e muita consciência, eles transformaram lenda africana em filme. É o Baú de Histórias, pura inspiração. Divirta-se!

Via: Portal Vermelho




VII Encontro de Tranceiras - Prêmio Fundação Cultural Palmares 2010



O Encontro de tranceiras que foi realizado pela sétima vez foi premiado pela Fundação Cultural Palmares - MInc 2010 no Edital Ideias Criativas do Rio de Janeiro.

Ebbano - Rede Social Negra



Somos um grupo de amigos que em uma conversa informal foi desenhando uma proposta de socialização produtiva onde nosso objetivo não é somente estar junto, é estarmos produzindo algo que seja bom para todos. Nossa meta é nos tornarmos referência em socialização como um todo, onde abordaremos as principais notícias, oportunidades de empregos e estágios, fóruns e eventos culturais identificados com os nossos ideais. Sejam benvindos ao MUNDO DE EBBANO, a sua nova casa!

Ebbano no Twitter: @ebbano_site

Eleições no IPCN


DOMINGO - 20 FEVEREIRO – MEM SE SÁ 208 A PARTIR DAS 11H

DRAGÕES DA RIACHUELO & BOTEQUIM INTINERANTE DO BECO DO RATO,

COMPAREÇA!

O momento não poderia de ser mais oportuno, pelo visto, o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, está recuperando o seu rumo. A nossa sede histórica na Rua Mem de Sá 208, mesmo que parcialmente, já está em condição de uso. Mais de setenta por cento das obras proposta em setembro de 2010, foram concluídas e com recursos exclusivos de antig@s e nov@s associad@s, faltando poucos recursos para sua liberação total.

A comissão Eleitoral tirada na reunião do dia 11 de janeiro de 2011 no CEDIM, praticamente concluiu o seu trabalho inicial definindo o Colégio eleitoral, data limite s para inscrição de chapas (21 de março de 2011) e realização das eleições (14 de abril de 2011).

Poderão votar tod@s os associad@s que comprovarem sua participação no ano de 2011. Isto significa que basta se (re)cadastrar e comprovar o pagamento das mensalidades de janeiro a abril deste ano, vinte reais (4 mensalidades de R$5,00), ou o equivalente em doação para a obra de Restauração. Um valor simbólico, com o objetivo de ampliar ao máximo a possibilidade de participação, sem preocupação com os custos operacionais. Afinal, o IPCN merece!

Acima de tudo, torcemos para que deste processo, surjam nomes que garantam a continuidade da luta como prova de que SIM, NÓS PODEMOS. E porque não Você?! Logo estaremos convocando reuniões sucessivas para discutirmos todos essas questões. Aguarde calendário completo, local, datas e horários dessas reuniões.

Conta Corrente para contribuição à obra do IPCN e habilitação para a eleição:
“CEN DES REC IPCN”, Banco do Brasil Agência 3260-3, conta corrente 9297-5.


À Comissão de Obras.
RESTAURAÇÃO DO IPCN – NÓS QUEREMOS 2010.
 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Racismo continua barrando criança negra na adoção

Brasília - Quase metade das pessoas que estão na fila da adoção – 37,5% – só aceita a adotar se a criança for branca, é o que revela o Cadastro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Segundo a juíza Andréa Pachá, titular da 1ª Vara de Família de Petrópolis (RJ), trata-se de uma forma camuflada de racismo. “É um dado estarrecedor. Ainda é forte a fantasia de que a adoção deve obedecer aos critérios da família biológica. Família é muito mais um núcleo de afeto do que herança biológica. Criança é criança, não tem cor. O discurso que se tem é o de que a criança não pode se sentir diferente. Mas isso é uma forma de racismo”, afirmou.

Segundo os números divulgados nesta segunda-feira (24/01), a cor da pele ainda é fator decisivo: dos 30.378 inscritos, 11. 316 só aceita se a criança for branca. Dos adultos inscritos, 14.259 – ou seja 46,94% - faz questão de escolher a criança pela cor da pele.

 
Além da exigência majoritária de que a criança deve ser branca, há ainda 5,81% (1.764) dos potenciais pais adotivos que só aceitam uma criança de pele parda; 1,91% (579) só aceitam uma criança negra; 1% (304) só aceita uma criança amarela; e 0,97% (296), uma criança indígena.

Com essas exigências as crianças negras continuam sendo esquecidas nos abrigos e orfanatos, sem chance de ganhar um lar adotivo, porque não atendem as exigências dos candidatos a adoção.

No cadastro, a maioria das crianças e adolescentes é parda — 50,57%, ou 4.020 de um total de 7.949. Estão disponíveis 2.411 crianças brancas, ou 30,33% do total. Também aguardam uma família 1.441 (18,13%) crianças negras, 41 (0,52%) amarelas e 36 (0,45%) indígenas.

 
Forma de racismo

Segundo a juíza “criança é criança, não tem cor” e o discurso de que a criança não pode se sentir diferente, não deixa de ser uma forma de racismo”. “Isso era pior antes. Hoje é mais fácil por uma criança de outra raça em uma família substituta. Temos encontrados casais que queriam uma menina loira de olhos azuis e, depois de visitar um abrigo, mudam de ideia. Esse perfil de menina loira de olhos azuis não é o que temos nos abrigos”, acrescenta.

Há uma outra exigência que acaba contribuindo para inviabilizar a adoção de crianças negras: os candidatos a adoção preferem crianças mais novas. Apenas 6,78%, ou 2.058, aceitam crianças com idade entre 6 e 10 anos. Outros 228 (0,76%) aceitam adotar um menor de 11 a 17 anos. No cadastro, há 2.006 crianças, ou 25,2% do total, com idade de 6 a 10 anos. Há também outras 3.855 crianças e adolescentes, ou 48,5%, com idade entre 11 e 17 anos.


 
Como a criança negra tem poucas chances de ser adotada, quanto mais velha vai ficando, menos chances tem de ganhar um novo lar.
 
Fonte: Afro Press 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Racismo no Vôlei!

09/02/11 - O meio de rede Deivid do BMG/São Bernardo foi vítima de racismo na última partida da equipe realizada em Londrina, quando a equipe do ABC acabou derrotada por 3 sets a 0. Um grupo de adolescentes presentes no ginásio Moringão teriam o chamado de "macaco". O diretor do clube, Rubens Rizzo registrou ocorrência do caso.

Deivid junto a outros atletas sofriam provocações da torcida local, consideradas normais, mas se exaltou quando os mesmos começaram os atos de racismo.
O jogo foi paralisado e o grupo foi retirado das arquibancadas após as ofensas. No entanto, foram liberados após a chegada de um advogado.
Segundo a assessoria de imprensa o atleta fará declarações após orientação jurídica.

Via Melhor do Vôlei


Na TV, negro vive no país das maravilhas

Trama das nove da Globo ignora questão racial com personagem mulherengo e bem-sucedido de Lázaro Ramos

ANDRÉ GURGEL É UM FENÔMENO. MAIS DO QUE VIVER NUM PAÍS EM QUE NÃO HÁ RACISMO, TRANSITA PELAS ALTAS ESFERAS COMO SE FOSSE INVISÍVEL

MAURICIO STYCER – ESPECIAL PARA A Folha

 

André Gurgel, um dos protagonistas de "Insensato Coração", é um designer famoso. Bem-sucedido, é a principal estrela de um escritório de design e sofre assédio para prestar seus serviços para uma concorrente. 

Premiado e paparicado, é objeto da curiosidade da imprensa, aparece em capas de revistas e cultiva a fama de mulherengo.

Em um único capítulo da novela, sem fazer esforço, apenas exalando seu charme, André Gurgel foi capaz de conquistar três mulheres.
 
Já levou uma mulher para a cama de seu apartamento, por insistência dela, e a dispensou depois do sexo sem deixar que ela dissesse qual era seu nome.
 
Até agora, todas que cruzaram seu caminho, fossem clientes, repórteres, colegas de academia ou paqueras da balada, quiseram transar com ele.
 
Para conquistar a única mulher que resiste um pouco a ele, Carol (Camila Pitanga), contratou os serviços de um iate e a levou para passear em alto-mar.

 

Ao final do encontro, por conta de um acidente, foi a uma delegacia onde a irmã de Carol estava detida. 

Exigiu que um policial avisasse o delegado da sua presença e, isso feito, conseguiu que a garota fosse liberada.
 
Em pelo menos dois capítulos, André foi visto nu tomando banho. A primeira vez, depois do passeio de iate e da carteirada na delegacia.
 
Enquanto Carol se banhava para dormir, em casa, André tomava uma chuveirada antes de ir para a balada conquistar mais uma mulher.
 
Na segunda vez, o banho ocorreu depois de dispensar uma moça e antes de sair com outra, que o aguardava.

 

Não bastassem todas as suas qualidades e talentos, ele ainda é negro. Vivido por Lázaro Ramos, o personagem não sofre qualquer preconceito ou discriminação por conta disso. Passados 15 capítulos, não houve uma única cena, um único personagem que mencionasse a questão racial na trama.
André Gurgel, em resumo, é um fenômeno. Mais do que viver num país em que não há racismo, transita pelas mais altas esferas como se fosse invisível. Como em "A Roupa Nova do Rei", não há ninguém ao redor do personagem com coragem de dizer que ele é negro.
Gilberto Braga e Ricardo Linhares usaram esse mesmo artifício com o casal gay de "Paraíso Tropical" (2007).
 
Como observou o colega Alcides Nogueira, "podia ser tanto um casal de gays quanto um casal de símios, porque não era nada".
 
Ao tratarem como natural o que não é natural, os autores podem até ter a intenção de transmitir uma mensagem de cunho educativo: "Assim é que deveria ser, assim é que os negros deveriam ser vistos, assim é que os gays deveriam ser tratados". 
Como na fábula de Hans Christian Andersen, porém, correm o risco de ser confrontados por alguma criança capaz de enxergar que "Insensato Coração" se passa no país das maravilhas. 
MAURICIO STYCER é repórter e crítico do UOL.

 
 
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