quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Parentes de jovem morto na Vila Cruzeiro denunciam ameaças

Familiares afirmam que integrantes da Força de Pacificação mandaram cessar os protestos

RIO - Parentes do adolescente de 15 anos morto na última segunda-feira na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, dizem estar sendo ameaçados por militares da Força de Pacificação que ocupam os complexos do Alemão e Penha. Abraão da Silva Maximiano, de 15 anos, foi morto a tiros, segundo o Comando Militar do Leste (CML), durante um confronto entre traficantes e os militares. A denúncia da ameaça foi feita na tarde da quarta-feira, após o enterro do menino no Cemitério do Irajá. O coronel Malbatan Leal, chefe de comunicação social da Força de Pacificação, no entanto, nega que tenham ocorrido ameaças.
— Dificilmente isso iria acontecer. Todos os militares que fazem parte da Força de Pacificação foram treinados para se relacionar com a comunidade e estão contagiados pelo espírito de pacificação — afirmou.
Revoltados com o que classificaram de covardia, os parentes que acompanharam o sepultamento tornaram a afirmar na quarta que Abraão estava sozinho em uma praça quando foi baleado. Cerca de 30 pessoas, entre vizinhos e parentes, fretaram um ônibus para participar do enterro. O corpo não foi velado, por falta de dinheiro dos parentes. A Kombi que transportava o corpo deu uma parada dentro do cemitério para que os parentes pudessem se despedir do jovem, antes do sepultamento.
— É um absurdo falarem que o Abraão tinha envolvimento com o tráfico. Desde os onze anos ele presta serviço voluntário na Igreja Nova Vida de Olaria, cortando cabelo de mendigos. Ele completou 15 anos no dia 23, era um menino cheio de vida e sonhos — disse o vizinho da família, Bruno Rodrigues, também voluntário na igreja.
Após o enterro, a tia e a irmã do menino registraram a queixa de ameaça na 22ªDP (Penha) e entregaram as cápsulas recolhidas por elas perto do local onde o rapaz morreu.
— Fomos ameaçados na porta do hospital. Um grupo nos abordou e nos mandou parar de reclamar. Caso contrário, sofreríamos as consequências — contou a tia do jovem, Eliane Lopes, completando que os militares afirmam que o sobrinho estava armado e andando com traficantes, mas até agora não mostraram provas.
O subsecretário de Direitos Humanos, Antônio Carlos Biscaia, esteve no cemitério e afirmou que vai oferecer proteção à família:
— Pretendo convidá-los para conhecerem o trabalho da secretaria. Vamos mostrar como funciona o serviço de proteção. Se for preciso, num primeiro momento, vamos retirá-los da comunidade e levá-los para um outro local, seguro e, depois, mandá-los para fora do estado.
A oferta, a princípio, será rejeitada pela família. A irmã do adolescente, Jéssica da Silva Maximiano, garante que não pretende deixar a comunidade.
— Se algo nos acontecer, todo mundo já vai saber que foram os militares. Quem tem que deixar a favela são eles. Lá é a minha casa, não saio mesmo.
Polícia fará a reconstituição da morte na favela
O delegado José Pedro Costa da Silva, titular da 22ªDP, não estava na delegacia no momento em que os parentes chegaram lá. Pela manhã, ele havia afirmado ao GLOBO que pretendia retornar à favela para realizar a reconstituição do tiroteio e tentar montar a cena do crime. O delegado garantiu também que Abraão não tinha passagem pela polícia e contou já ter interrogado, na terça-feira, os oito militares que participaram da ação:
— Quero saber a posição exata dos militares e a distância de onde partiu a bala que matou o adolescente. Preciso de todas as provas técnicas para concluir a investigação, em 20 dias.


 Fonte: O Globo


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