Laurindo Leal é ex-professor da Escola de Comunicação e
Artes da USP (ECA-USP) e uma das pessoas que mais respeito no debate da ética e
dos diretos na comunicação. Como estava com a manhã comprometida, solicitei ao
reporter Felipe Rousselet que o entrevistasse. A minha intenção era (e continua
sendo) discutir esta entrevista da repórter Mirella Cunha a partir do paradigma
da atividade jornalística e da violação dos direitos humanos.
Lalo pondera que "neste tipo de programa policialesco
violações aos direitos humanos são comuns". No entanto, acrescenta:
"mas eu nunca vi o comportamento de uma repórter que chegasse a este nível
de humilhação. Ela extrapolou todos os limites éticos da profissão. Inclusive,
acredito, infringido normas legais ao colocar em situação vexatória uma pessoa
em situação de fragilidade. Foi além de todas as barbaridades já cometidas por
esse tipo de programa".
De fato, a entrevista de Mirella Cunha ultrapassa todos os
limites, inclusive, deste tipo de jornalismo popularesco policial. Por isso
este blogue defende que ela precisa se tornar um "case", como se
tornou a ação contra Mayara Petruso, inicialmente também divulgado aqui.
O debate sobre este caso é fundamental para que se impeça
que outros supostos jornalistas se sintam à vontade para agir dessa forma. A
repórter não entrevista o acusado. Ela, a partir da premissa de que se trata de
um estuprador, sente-se à vontade para acusá-lo e humilhá-lo. Chega ao absurdo
de pedir pau nele na cadeia e insinuar que gosta de ser sodomizado, por ter
confundido exame de próstata com exame de corpo delito.
O professor Laurindo diz que "aguarda um posição do MP,
do Sindicato dos Jornalistas da Bahia, da Federação Nacional dos Jornalistas,
da TV Bandeirantes e também da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, já que
os policiais entregaram aquele suspeito para que a repórter fizesse o que
fez".
De fato a Secretaria de Segurança Pública da Bahia tem
também que se explicar no caso. Essa entrevista foi realizada nas dependências
de uma delegacia. Quem era a autoridade de plantão? Por que permitiu tamanha
violação aos direitos do acusado?
Em relação às entidades de representação dos jornalistas, é
preciso destacar que elas têm sido muito atentas e ligeiras em responder às
questões que dizem respeito a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Este
blogue espera que também sejam céleres em se posicionar em relação à ação desta
repórter.
O blog está entrando em contato com a Secretaria de
Segurança Pública da Bahia, com a direção de jornalismo da Band Bahia e com o
Ministério Público. Como de praxe, este espaço está aberto para o
posicionamento da outra parte, no caso a repórter Mirella Cunha e do
apresentador do programa, Uziel Bueno. Neste fim de semana estarei em Salvador
por conta do III Encontro Nacional dos Blogueiros. Seria muito bom poder tratar
desse caso com os atores locais.
Atualizando:
O repórter Felipe Rousselet havia entrado em contato com
Celso Schroder, presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) logo
cedo, mas ele não tinha como atendê-lo. No momento em que publicava este post,
chegou a resposta de Schroder. Segue. Abaixo dela, uma ponderação minha.
"Entramos em contato com o Sindicato dos Jornalistas da
Bahia para pedir que averiguem se a matéria que está sendo divulgada foi ao ar
desta maneira, ou se ela foi editada antes. Sabemos que o ambiente da
blogosfera não é totalmente confiável. Temos canais confiáveis e outros nem
tanto. Primeiro será feita esta checagem da matéria e da informação pelo
Sindicato da Bahia. Em posse das informações, vamos nos manifestar em relação
ao mau jornalismo praticado, humilhação e total falta de sensibilidade. É um
ataque ao jornalismo quando um profissional abandona os princípios da
profissão. Se confirmada violação ética, vamos publicar uma nota de repúdio.
Quanto as ações contra os responsáveis pela matéria, serão analisadas as
medidas cabíveis pela Comissão de Ética do Sindicato de Jornalistas da Bahia,
que compõe o Fenaj. O Conselho de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas é
uma instância superior para análise de recursos. Ambos não fazem parte do
sindicato. São independentes, como os conselhos de ética de todos os sindicatos
brasileiros.
Em que pese toda essa análise, nós manifestamos absoluto
repúdio a este tipo de jornalismo e ressaltamos que não podemos permitir este
tipo de postura. Como nós denunciamos as violências contra os jornalistas, e
cobramos punição contra aqueles que as praticam, um jornalista não pode ter
este tipo de comportamento. Quanto as possíveis punições, apesar do nosso
esforço, nos não conseguimos constituir um Conselho Federal dos Jornalistas por
pressão das empresas do setor. Este tipo de conselho tem autonomia de caçar a
licença. Atualmente a Fenaj não pode caçar o registro de um profissional,
podemos apenas denunciar eticamente."
O presidente da Fenaj ao ponderar que "o ambiente da
blogosfera não é confiável" por acaso esta querendo dizer que se tivesse
saído no Globo tudo bem? Aí ele acreditava? O vídeo tem o logo da Band e do
programa Brasil Urgente, além da repórter ser a mesma que trabalha no veículo.
Tudo coincidência...
Atualizando 2:
A Band afirmou em nota que vai "tomar todas as medidas
disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do
jornalismo da emissora".
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