No dia seguinte ao 20 de novembro, iniciam-se os ataques aos ônibus no RJ. 24 horas depois do Dia da Consciência Negra. Após os protestos, reivindicações, festas e comemorações a triste realidade entrava pela televisão ou batia a nossa porta; muitas irmãs e irmãos estão morrendo e matando, segurando um fuzil solitário no alto do morro ou descendo o asfalto para incendiar apenas mais um veículo. Pelo tráfico ou em nome dele.
Esse é o queimar de um pavio que foi aceso já tem muito tempo. Quando nos segregaram para um morro, um barraco, uma favela. Mas o problema não é o morro ou a favela, o problema são as condições, subumanas, de vida que os moradores estão destinados.
Enquanto o morro se auto-destruir nada será feito, porém no momento que a linha divisória que o separa do asfalto for ultrapassada e a propriedade privada (no caso, veículos) atacada, temos um problema. O monstro até então invisível passa a ser enxergado e virá alvo. Um grande alvo preto.
As primeiras vítimas disso tudo são aquelas que agora estão presos em outro estado por terem ateado fogo, aquelas que sobem o matagal correndo ou amontoados em um carro, recebem um tiro na perna e caem, aquelas que segurando sua ponto 50 miram o helicóptero da polícia. Essas são as primeiras vítimas que o sistema fez e que agora estão fazendo “o que o sistema quer”. O que me deixa triste é ver que sua imensa maioria é negra.
O tráfico é um mal que precisa ser combatido, mas os “traficantes” são seres humanos, a maioria se parece comigo, a maioria foi obrigado pela situação a estar onde está, fazer o que faz; esses são fatores pelos quais, além de querer que o tráfico acabe, eu queira que a condição humana dos “traficantes” seja respeitada.
Será inútil ocupar o morro, expulsar os “bandidos”, e não investir em políticas públicas. Será como podar uma árvore, sem retirar a raiz. Enquanto for preferível traficar a morrer de fome ou viver desumanamente, a primeira alternativa será escolhida.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
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