quinta-feira, 24 de março de 2011

Sim! Sou negra! - Um Depoimento sobre um País sem Preconceito

Por: Camila Marins
“Por favor, você poderia encher a garrafa de café?”. Foi exatamente isso que ouvi em um evento que fui cobrir destinado a engenheiros e advogados. Apenas respondi à elegante senhora: “Desculpe, mas eu também gostaria de tomar um café. Sabe onde podemos encher?”. Fui cobrir a atividade para fazer uma matéria sobre o pré-sal e a cor do petróleo se fez presente. Sim, sou negra!

Há algumas semanas outro fato interessante aconteceu. Eu estava entrando na minha casa quando a vizinha me abordou e perguntou se eu era a tratadora dos gatos que criamos em casa... Eu disse que não e que morava ali e ela insistiu: “Você mora onde? Aqui no bairro?”. Eu disse não, moro neste apartamento. E ela, um pouco sem graça, continuou a conversa sem eira nem beira e, ao final, ainda me cumprimentou com um beijo no rosto, gesto que não foi feito no início da conversa. Ou seja, tentou contornar a situação com um beijo de Judas.

Agora, nesta segunda-feira passada, estava chegando do aeroporto, vindo de Manaus, com muita bagagem e o porteiro prestativo interfonou no meu apartamento e disse: “Olha só, sua secretária está subindo com um monte de malas, alguém pode ajudá-la?”. Meu amigo questionou se era nossa secretária doméstica e o porteiro disse: “Não, é a Camila”. Então, novamente, eis a confusão. Não me importa ser confundida com secretárias, domésticas ou qualquer outra profissão, o que realmente me importa é a violência do preconceito racial. E a dimensão desta dor poucos conhecem. Ou talvez muitos, já que a maioria de nós faz parte da imensa parcela de excluídos.

E, mesmo diante de situações cotidianas como as descritas acima, nós, excluídas e excluídos, ainda somos acusados de vitimização. Inadmissível, pois só corrobora para a hipocrisia e praticamente ignora o preconceito. Não adianta me dizer que no Brasil não existe preconceito. Existe sim e convivemos com essa dor cotidianamente. Outros ainda me dizem: “Você não é negra. É morena de cabelo cacheado”. Então, me respondam se eu não sou negra, porque sofro preconceito racial incessantemente?

Sim! Sou negra!

Camila Marins - Jornalista
(21) 9530-6850 ou 7860-8720
ID Nextel: *112*76751
Twitter: @camilamarinsjor
camilamarins.blogspot.com
camila_marins@yahoo.com.br
camilinhamarins@hotmail.com

Fonte: Trança Nagô

2 comentários:

Andréia (Deia) disse...

Nuss desculpa a palavra mais q sacanagem desse povo ¬¬...
Por isso tem muitos que reagem de forma diferente e acabam agredindo as pessoas que fazem esses tipos de perguntas cachorras ¬¬
bom temos que viver neh,
gostei da volta por cima s2
bye bye

Henrique Mota disse...

Com a leitura constante destes exemplos de gente que se julga superior, mais me convenço de que o caminho antiracista que toda a vida trilhei, está certo e do qual tenho orgulho.

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