terça-feira, 29 de março de 2011

Texto 4 - Concurso “O racismo explicado a meus filhos”

Bom, narrarei para vocês de maneira bem informal e descontraída, três fatos, aos quais eu não me esqueço, e que surgem como fantasmas em minha mente.
Sempre estudei em escola particular. Na minha sala, havia apenas 3 negros: eu, Antônio e Débora. Eu era apaixonada por este tal Antônio, e minha mãe sempre gostou disto, pois afirmava a minha preferência por negros (afinal, meus pais são negros). Eu, sempre imaginava que ele poderia querer algo comigo, pois o restante das garotas da turma eram brancas, e racistas, e eu sendo negra, talvez fosse possível ele se interessar. Uma vez estávamos conversando numa roda de amigos da turma, e uma outra garota estava jogando ele para cima de mim, e neste sentido, ele disse uma frase da qual eu não me esqueci: “fala sério Lais, você acha que eu vou querer alguma coisa com essa macaca do cabelo duro?”. É lógico que eu parei de falar com ele, e pensei por um momento que ele poderia mudar esta cabeça com o passar do tempo, mas nada pareceu mudar. Passou um tempo depois daquele constrangimento, e um colega de turma estava jogando aviãozinho na sala de aula, enquanto a professora não via. Calhou de o aviãozinho cair na minha cabeça e agarrar no meu cabelo (nesta época eu usava o cabelo com tranças). Sabe, a primeira pessoa a rir e ridicularizar o meu cabelo? O tal Antônio. Ele sendo negro, disposto a fazer tais atrocidades. Atualmente, ele mora com uma garota, loira, e tem uma filha. A família da garota não o aceita o namoro dos mesmos, por ele ser, segundo eles, “sarará”.
Na rua, as vezes no ônibus, sempre tem aquelas pessoas com as quais você está conversando, e do nada te interrompem para falar de outros assuntos. Vou dar um exemplo. Enquanto você está falando de trabalho, estudos, namoro, a pessoa te interrompe e diz: “nossa, eu não tenho nada contra a sua cor, aliás, eu acho ela tão bonita”, ou coisas como. “mesmo você sendo negra, você é tão educada.”. Estas frases parecem me seguir, as ouço com freqüência! E como sempre, isto aconteceu comigo há algumas semanas atrás; uma mulher de pele clara, e cabelos crespos, disse tal absurdo; disse que apesar de não gostar de traços negros, como boca e nariz, ela me achou muito bonita. O que deveria ser para ela um elogio, se tornou uma evidência de racismo deslavado.
Em minha cidade são poucas as pessoas que tem o terceiro grau, e por devidos motivos, tanto por ausência de universidades públicas próximas, ou por carência das pessoas. Um dia, na Igreja em que eu freqüento, o secretário (chamarei de”X”) e meu pai estavam conversando sobre estudos, e meu pai estava dizendo que o meu tio havia se formado em direito; no mesmo momento em que meu pai disse isto, o “X” falou: “Nossa Sid, na sua família ele deve ser uma das poucas, ou se não, a única pessoa a fazer faculdade”; Meu pai secamente retrucou dizendo: “Não, pelo contrário. A minha filha, minhas irmãs, meus sobrinhos, todos eles fazem faculdade. Porque você pensou que minha família não tivesse este êxito?”; no mesmo momento ele desconversou, mas eu e minha família discutimos o episódio, e percebemos que na situação em que o “X” dissera, seria uma forma evidente de racismo. Como se a negritude, a cor da pele, dissesse quem você é, ou sua profissão.
Sendo narrados tais fatos, percebe-se o sofrimento e os traumas que o negro vem sofrendo com o passar dos tempos, devido à condição de escravo a que fomos submetidos. Mas nos restam algumas perguntas, como: o que podemos fazer para mudar a concepção das pessoas? O tempo ocupou-se de “inserir” o negro na sociedade após pouco mais de um século da abolição da escravatura. Quanto tempo resta para que a sociedade crie consciência, e o racismo acabe? Serão necessários mais quantos séculos? ...
Autor(a): LDom

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