sábado, 11 de dezembro de 2010

Entrevista com a Atriz e Cantora Thalma de Freitas

Nossa equipe entrevistou a talentosa, bela e simpática atriz e cantora Thalma de Freitas. A conversa abordou temas como carreira, moda, estilo, discriminação, os desafios de vencer na mídia, entre outros.

Sabe pouco sobre a Thalma? Nada que  a Wikipédia não resolva.



Ofensiva Negritude - Em um mundo cujos padrões de beleza são predominantemente ligados aos traços
brancos, quais são as maiores dificuldades para ingressar em um meio midiático como a
televisão?
Thalma de Freitas - Um mundo não, um meio… A dificuldade neste meio é transpor a primeira barreira que é descobrir  a si mesmo, seu lugar e perfil e aprender a usar seu estereótipo, tão necessário como uma roupa de astronauta . Tudo fica bem mais fácil pra quem é inteligente e estiloso, isso me parece até mais importante que ser bonito. Aliás ter um bom senso estético, ser disciplinado, culto e corajoso ajuda por demais em qualquer meio de trabalho.
Aos 16 anos fiz um longo curso de modelo e lá aprendi a cuidar da imagem para que minha figura seja forte e inesquecível, isso foi determinante para o sucesso da minha carreira.  A televisão usa a imagem das pessoas pra representar seus conceitos e só quem condiz com os padrões, não só estéticos mas principalmente comportamentais, pode ser usado neste trabalho. 


ON - Qual a maior dificuldade encontrada pelos jovens provenientes da periferia para se
projetarem no mundo das artes cênicas? Como você acha que o governo poderia ajudar
a descobrir novos talentos?
Thalma - Meus amigos desta classe são todos artistas estabelecidos, geralmente rappers e atores, que usam seu talento pra seguir um caminho de vida no meio artístico, que é bem mais democrático e generoso que o meio burocrático. Todos sem exceção usaram o conhecimento para se projetar, não há outro meio e tem que partir da pessoa querer saber profundamente sobre aquilo que lhe interessa e usar esse conhecimento a seu favor.
Meu pai é um músico respeitado e eu não sei o que é viver fora do mundo das artes. Não acho que seja papel do governo descobrir novo talentos, isso a pessoa faz por si mesma. A ideia de depender do governo pra abrir caminho me causa uma certa repulsa, acredito em usar o sistema pra viver e não viver pra ser usado pelo sistema. 


ON – Como exatamente sua carreira se iniciou?
Thalma - Quando aos 14 anos peguei as 'paginas amarelas' e procurei algumas escolas de teatro. A secretária que me atendeu melhor era do "Teatro Escola Macunaíma", marquei a primeira aula e avisei pra minha mãe que seria atriz. Queria fazer musicais no cinema e já sabia que cantava bem, então precisava aprender a atuar. Meus pais sempre me incentivaram a ir atras do que queria então logo que me senti capaz de andar na rua sozinha fui a luta pra conquistar meus sonhos.


ON – Thalma, o que você prefere: a música ou a dramaturgia?
Thalma - Essa pergunta me persegue e não faz o menor sentido, não há como (justo eu) "preferir" um ou outro.
Minha verdadeira paixão é ter ideias e realiza las. Sou uma empreendedora e para dar cabo do meu projeto de vida tive que aprender a ser performer, produtora,compositora, escritora, fotógrafa, stylist, cabeleireira, webmarketer… Tudo isso para ser excelente especialista neste meio de trabalho amplo que é o Mercado do Entretenimento. 


ON - Houve mudança no tratamento dado as negras e negros, em todos esses anos que
você está na telinha?
Thalma - Claro que sim, minha carreira é um forte exemplo disso, fiquei famosa e respeitada nacionalmente fazendo uma  empregada doméstica que era uma excelente personagem, a Zilda de ' Laços de Família' em 2000. Tive personagens  diversos e relevantes nas tramas e sinto que ampliaram as possibilidades para artistas negros, apesar da televisão trabalhar com estereótipos bem definidos, ou até por isso mesmo. É um reflexo de uma nova realidade social brasileira, consequência principalmente do pedido do público que exigiu representação através de telefonemas e cartas para as emissora, os jornais e revistas, obrigando os diretores desses meios a rever seus conceitos para atender a demanda.


ON - Você já sofreu algum tipo de preconceito durante sua carreira??
Thalma - Não. Não mesmo. Todo preconceituoso que cruzou meu caminho não me fez sofrer e sim me incentivou a continuar lutando pra esclarecer as pessoas sobre essa doença social inventada para atender interesses maléficos dos psicopatas no poder. 


ON - Você tem muitos papéis iguais em novelas ou peças?
Thalma - Não, já fiz  três ótimas domésticas ( Dolores em Vira Lata em 96 / Zilda em Laços de Familia em 2000 / Bahiana em Bang Bang em 2005), a advogada Carol em O Clone, a cantora Elvira em Começar de Novo… Recentemente minha personagem Natália, em Malhação, era tradutora e tinha uma "vida confortável" e com esse argumento tentou levar sua neta ( sim , já fiz papel de avó! hahah) pra morar longe da família branca que, na opinião dela, não ajudaria na formação de identidade étnica da criança.


ON - Você está lendo algum livro? Qual?
Thalma - Tenho sempre na cabeceira " Um Curso em Milagres" e diversas traduções do "Tao Te King". Estou novamente apaixonada pelo educativo " Deixa Sair" da Sonia Hirsch. Leitura obrigatória pra quem quer ter uma vida alimentar  lúcida e inteligente e consequentemente adquirir uma saúde de ferro.   

 
ON - Como você vê a situação dos afro-brasileiros atualmente?
Thalma - Vejo prosperidade e possibilidades como nunca antes na história desse país. Não vejo mais tanta necessidade de discutir o racismo, porque a evolução  direciona para o equilíbrio nas lutas de classe e a partir daí é possível transcender os enormes erros do passado.


ON - Qual a importância da África na construção de sua identidade negra?
Thalma - A Bahia representa a Africa no Brasil e minha mãe vem de lá. Outro dia conheci o musico espiritual Mateus Aleluia , que compôs " Cordeiro de Nanã" e morou muitos anos em Angola… Ele me disse que aprenderei muito sobre minha origem, passado e presente, quando conhecer a Africa. Espero que não demore muito.


ON – Você é umas das atrizes negras "pioneiras" a usar o cabelo afro. Como você trata
seu cabelo e como cuida da sua beleza?
Thalma - Sim, desde que compreendi a importância de ser uma atriz negra na televisão brasileira assumi cabelos com estética negra para dar um bom exemplo a audiência de como o cabelo crespo é bonito e versátil. Trato o cabelo com criatividade, hidratação e tesoura. Adoro perucas e tranças. Quanto aos cuidados com a beleza, eles começam na saúde física e mental.


ON - Você é contra ou a favor das cotas nas universidades?
Thalma - Sou contra a necessidade das cotas e a favor do valor político que elas representam. Não terminei o segundo grau e sei  muito bem da importância do conhecimento pra evolução pessoal e luta social. Muito se tem feito pelo  reconhecimento do valor histórico e social dos negros brasileiros e isso me enche de alegria e contentamento.


ON – Algum recado final para os leitores do blog?
Thalma - Gostaria de lembrar as palavras do Sr. Wilson das Neves citando o próprio pai:
"Importante não é quem é você  e sim o que você faz, se é que você faz alguma coisa!"
Paz e Amor,
T.


Sigam a Thalma de Freitas no Twitter @thalmissima 
E acessem as páginas dela no Tumblr e no Blogger .

A equipe Ofensiva Negritude agradece imensamente a disponibilidade e o carinho desta grande estrela da dramaturgia e da música afro-brasileira que tanto tem encantado o público com seu talento.

4 comentários:

Tw! disse...

Massa!
Adorei a entrevista.
Parabéns ao blog e seus idealizadores.

Luice disse...

Essa mulher é um escandalo de beleza e talento...Parabéns ao pessoal do blo9g! \0/

zuza disse...

Legal a positividade, mas acho q ela "viaja" um pouco qnt a situação atual da discriminação racial no Brasil. Sim, está caminhando, melhorou... mas falta muito para melhorar. Existe muito ainda aquele racismo velado e enrustido. Ignorar é persistir no erro.

Anônimo disse...

sim estou orgulhosa. representa a raca negra com muita classe

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