Pra quem não acompanhou: 1ª Parte, 2ª Parte, 3ª Parte.
Até 2000, um terço das terras férteis do país eram propriedades de 4,5 mil fazendeiros brancos, os outros dois terços estavam divididos entre 1,5 milhões de produtores negros. Em meados de 1999, um chefe camponês liderou a primeira ocupação de terra do Zimbábue no período pós-Independência. Ele encabeçou um grupo de centenas de famílias das terras marginais para as terras férteis. Os fazendeiros brancos tentaram, por todos os meios, como repressão e pressões no governo, despejar os camponeses, mas o Presidente Mugabe apoiou os trabalhadores e disse: ''É uma ocupação legítima. Se a Inglaterra não ajuda o Zimbábue a resolver os problemas sociais, então os zimbabuanos têm o direito de lutar pela terra''. Isto serviu de exemplo para camponeses em todo o país.
A Reforma Agrária e Plano de Implementação de Reassentamentos, aprovada em julho de 2000 pelo parlamento, autorizava o Estado a tomar a terra de fazendeiros se considerasse que esta não era produtiva ou se era muito grande para uma mesma família. Até 2004, 4 mil fazendeiros brancos tiveram suas terras redistribuídas a 300 mil famílias negras totalizando um total de 11 milhões de hectares.
Conclusão
Durante o período pós-independência a situação era essa: os proprietários brancos eram donos das melhores terras e os negros dividiam as inférteis. Apesar de terem conquistado o poder político, os zimbabuanos estavam longe de ter o poder econômico. Com benefícios comerciais e alfandegários, os fazendeiros brancos enviavam seus produtos à Inglaterra e ficavam cada vez mais ricos. Além disso, deixavam todo o seu capital em bancos do país europeu. A economia do Zimbabwe estava externalizada. É óbvio que uma mudança no status quo afetaria as grandes potências mundiais.
O que adiantava o Zimbabwe ser o “celeiro da África”, como os contestadores da reforma costumam afirmar, se os zimbabuanos viviam sob uma condição sub-humana, relegados as terras inférteis e sendo subjugados por uma minoria branca européia. Portanto, era o celeiro para quem?
Considerando que a reforma agrária tem o potencial de atingir estruturas sociais que perpetuam formações coloniais de classe, não surpreende que tal processo seja tão fortemente contestado. O governo do Zimbabwe tentando superar a dependência de financiamentos estrangeiros acaba gerando fortes resistências, pelos investidores internos e externos. Escuro, os investidores resistem a essas mudanças para preservar seus próprios interesses, isto é, o status quo.
Por que há uma forte oposição da União Européia e dos EUA, sanções, embargos econômicos, ao governo de Mugabe? Porque enquanto o “celeiro da África” engordava os bolsos da minoria branca, que enriquecia os cofres europeus e americanos era conveniente apoiar tal “celeiro”. Porém no momento em que os Zimbabuanos resolveram tomar a iniciativa, tomar as terras, vieram os embargos, vieram as sanções; dando ao “celeiro da África” a maior inflação do séc. XXI.
A proposta das grandes potências é bem visível: perpetuar uma política neocolonialista no continente africano, deixando-o dependente do capital estrangeiro e endividando-o com quantias impagáveis. Essa política gera crescimentos unilaterais, mas não para a África.
2 comentários:
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=610980&page=-1
http://fernandonobre.blogs.sapo.pt/8915.html?page=2
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