terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mídia demonstra o racismo das revistas segmentadas

Análise de Playboy, Nova, Atrevida e Veja mostra o tratamento desigual entre brancos e negros, destacadamente nos temas sexuais

Por Dennis de Oliveira

O racismo, no Brasil, tem um duplo viés: o primeiro, é de caráter socioeconômico e é demonstrado por todos os indicadores que mostram a desigualdade entre brancos e negros que persistem historicamente. O segundo viés é de caráter ideológico: a desigualdade entre brancos e negros é sustentada, ideologicamente, pela disseminação de narrativas que sustentam a ideia de inferioridade do negro e negra.

Um dos instrumentos mais eficazes que disseminam esta ideologia do racismo é a mídia. Diante disto, realizamos, em 2010 e 2011, uma análise quantitativa e qualitativa de periódicos impressos segmentados – publicações tematizadas ou destinadas a públicos com interesses específicos – que, pela sua natureza, ao venderem estilos comportamentais e de vida, aproximam sobremaneira o discurso jornalístico do discurso publicitário, pois o fato noticiado se coaduna com comportamentos de consumo. A análise foi realizada no ano de 2010 com as seguintes revistas: Playboy, Nova, Atrevida e Veja. Para efeitos de comparação, foram analisadas no aspecto quantitativo as publicações dos EUA congêneres – Seventeen, Playboy (EUA), Cosmopolitan e Time. Esta pesquisa contou com a participação das bolsistas de iniciação científica Lunalva de Oliveira, do curso de Relações Públicas e de Júlia Mega, do curso de Letras, ambas da USP.

Análise quantitativa

Para efeitos de análise quantitativa, foi medida a presença de negros e negras em imagens de matérias jornalísticas e propagandas, textos que tratem de personagens negras, entre outros. O espaço destinado foi comparado ao total de espaço oferecido pela revista e, com isto, calculado os percentuais por trimestre, tendo em vista as diferentes periodicidades de cada revista. Esta operação foi realizada com os periódicos selecionados no Brasil e nos Estados Unidos no ano de 2010.

A pesquisa demonstrou que a presença de negros na mídia dos EUA é ligeiramente maior que no Brasil - a média no Brasil é de 8,7% contra quase 9% dos EUA. A diferença seria insignificante não fosse pelo detalhe que a população negra no Brasil é, segundo os dados oficiais, superior a 50% contra 15% nos EUA. A distorção, portanto, no Brasil é muito maior que nos Estados Unidos.

A pequena aparição de negros e negras na mídia passa por filtros. Na análise das publicações selecionadas, identificamos alguns filtros pelos quais a presença negra é tolerada e, diante disto, são construídos os seguintes valores: minorização, difamação estética e objetificação radical da mulher negra.

Minorização

Os negros e negras sempre são colocados em situações em que aparecem ou solitários ou como minorias, cercados de brancos. Na abertura do artigo publicado na revista Nova, de setembro de 2010, percebemos a presença de um homem negro em torno de vários outros homens brancos. Esta tem sido a quase regra de aparição de negros em anúncios publicitários e em imagens que tenham a presença negra, quase nunca se verifica uma imagem com várias pessoas negras – ou ele aparece só ou acompanhado de brancos, denotando- se a ideia de um corpo estranho.


Fonte: Caros Amigos

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