A intolerância religiosa é marcante no Brasil e afeta
principalmente pessoas ligadas às crenças de origem africana, revela uma
pesquisa da Relatoria Nacional de Educação. E esta situação começa desde cedo
nas escolas.
O número de casos de intolerância em escolas públicas,
sobretudo em relação a seguidores de religiões de matriz africana, está a
aumentar, diz a investigadora e relatora nacional da educação Denise Carreira.
“São religiões que constituem espaços de resistência do povo negro no Brasil.
Historicamente, essas religiões foram muito perseguidas, foram demonizadas,
sobretudo por religiões de matriz cristã”, lembra.
A investigação da Relatoria Nacional de Educação mostra
ainda que a crítica situação começa desde cedo nas escolas, com casos de
professores demitidos e alunos apedrejados, vítimas do racismo. O relatório
contém também um conjunto de recomendações para enfrentar diversos problemas
ligados ao racismo na educação, entre os quais a intolerância religiosa.
Este levantamento, que faz parte dos trabalhos da Relatoria
Nacional da Educação com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), foi
feito a partir de denúncias que chegaram ao órgão, após missões que perceberam
um aumento de casos de intolerância religiosa em escolas públicas brasileiras.
Silêncio torna casos “invisíveis”
Humilhações na sala de aula, segregação e isolamento são
alguns dos tipos de preconceito que sofrem os alunos, de acordo com a relatora
nacional da educação. Denise Carreira diz que há casos de professores que foram
demitidos por abordarem conteúdos sobre essas religiões como parte da cultura
brasileira. E também há casos de crianças que foram apedrejadas por serem
adeptas de religiões de matriz africana.
O problema, segundo a investigadora, é que “existe um grande
manto de silêncio que torna invisíveis esses casos”. E porque têm medo de serem
perseguidas, geralmente as vítimas também temem a denúncia.
Perante este cenário, e após apresentar as recomendações ao
Congresso brasileiro e ao conselho da ONU, a relatora espera que a população
não tenha medo e denuncie cada vez mais.
Faltam procedimentos mais nítidos
Questionada sobre como reagem as autoridades brasileiras
quando uma criança é apedrejada ou um professor é demitido, entre outras
situações, a pesquisadora responde que “há falta de procedimentos mais nítidos
para lidar com esta problemática.”
O governo federal tem um plano nacional de combate à
intolerância religiosa, que pretende atuar em escolas. Por outro lado, Denise Carreira
defende, sobretudo, “a importância fundamental da implementação da lei que
estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana e
afro-brasileira em toda a educação básica”, que vê como uma forma de “enfrentar
o racismo presente na educação brasileira e construir caminhos para enfrentar a
discriminação e a intolerância religiosa nas escolas.”
A Relatoria Nacional de Educação promete apresentar um
relatório mais amplo sobre educação e racismo no Brasil até ao próximo mês de
maio.
Fonte: ABPN
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