quarta-feira, 18 de abril de 2012

Monteiro Lobato, um racista consciente








Em 2010 quando o Conselho Federal de Educação considerou o livro As Caçadas de Pedrinho do escritor Monteiro Lobato (1882-1948) como racista uma multidão de intelectuais brasileiros se transformaram rapidamente em advogados apaixonados do referido escritor. Para esses intelectuais, Monteiro Lobato não era um racista, nem tampouco suas obras. Mas, será mesmo? Vejamos.

Os contos que deram origem ao seriado global O Sítio do Picapau Amarelo demonstram por si só o caráter racista de Monteiro Lobato. Nele só os brancos vivem as aventuras (Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Emilia, Visconde, etc.) enquanto os negros não passavam de serviçais e “pestinhas” (Tio Barnabé, Tia Nastácia e os sacis). Porém, alguns alegam que foi a Rede Globo quem deu o tom racista a esses contos. É verdade que a Rede Globo é um poço sem fundo de racismo, mas Monteiro Lobato não fica nem um pouquinho atrás de Roberto Marinho. No livro As Caçadas de Pedrinho ele escreve “Tia Nastácia, esquecida de seus numerosos reumatismo, trepou, que nem macaca de carvão”.

Na verdade, os defensores da “honra” do grande escritor brasileiro não demonstram a mesma preocupação com a autoestima de milhões de crianças negras que são obrigadas a ler esses contos racistas no interior de suas escolas. Mas, não é só isso. Em 2011, foram reveladas cerca de 20 cartas inéditas de Monteiro Lobato que demonstram claramente que ele não era só um escritor contaminado por preconceitos de sua época, mas um racista consciente e da pior espécie. Uma excelente matéria escrita por André Nigri foi publicada na revista Bravo! a respeito dessas cartas. Em uma delas Monteiro Lobato escreve que “País de mestiço onde branco não tem força para organizar uma Ku Klux Klan, é um país perdido”, ou seja, o desejo dele era que os brancos brasileiros criassem uma organização que exterminasse negros, assim como fez os brancos racistas dos Estados Unidos após a Guerra Civil que culminou com a abolição da escravidão naquele país.

As cartas de Lobato eram enviadas, sobretudo, para o paulista Renato Kehl (1889-1974) e para o baiano Arthur Neiva (1880-1943) ambos defensores de que negros e mestiços fossem esterilizados para não reproduzir mais por serem considerados “inferiores”. Essa política ficou conhecida como “eugenia negativa”, baseada na ideia de que a raça branca/ariana era superior a todas as demais. Foi na eugenia que os nazistas se apoiaram para eliminar mais de 8 milhões de judeus.

Monteiro Lobato não é só um homem do seu tempo, na verdade ele é um produto consciente do sistema capitalista e do racismo branco e faz parte do grupo daqueles intelectuais que buscavam estabelecer o vínculo orgânico entre a superestrutura, onde se encontra as ideologias, com a infraestrutura, onde se acomodam as classes sociais e os grupos étnicos. Para muitos desses intelectuais era o contingente negro que fazia do Brasil um país atrasado e não a impotência da burguesia brasileira em romper com a dominação que o imperialismo exercia sobre o nosso país. Diante dessa situação preferiam defender que seria necessário branquear o país para que o mesmo alcançasse o status de civilização e para isso nada melhor do que organizar uma Ku Klux Klan tupiniquim.

Quando Marx afirma que “as ideologias de todas as épocas é a ideologia da classe dominante” ele estava querendo explicar que toda formação social tem a sua ideologia correspondente, ideologia essa que serve para falsear a realidade social e justificar a dominação de classe.

Monteiro Lobato e tantos outros de sua época eram parte de um bloco ideológico a serviço dos interesses da nascente burguesia brasileira e de suas velhas oligarquias que precisavam de intelectuais orgânicos que justificasse a exclusão estrutural do negro no pós-abolição e que, por outro lado, legitimasse a burguesia branca enquanto classe/etnia dominante.

Em outras palavras, a exclusão do negro estaria justificada em razão de sua suposta “inferioridade” e não como decorrência de uma política deliberada de seletividade racial aliada à incapacidade das elites brasileiras de se enfrentarem com a dominação imperialista que limitava o desenvolvimento das forças produtivas em nosso país. Em meio a isso, o etnocídio (eliminação cultural) ou o genocídio (eliminação física) sempre foram armas muito bem usadas por essas classes contra o povo negro e justificadas por seus intelectuais.

Basta ver nas estáticas a cor das principais vítimas de homicídios, desempregos, analfabetismo e detenções para se dá conta de que o projeto de “eliminação racial” que Monteiro Lobato abraçou conscientemente se realiza cotidianamente no Brasil. O massacre de Pinheirinho levado a cabo pelo PSDB de Alckmin e os despejos de dezenas de comunidade quilombolas a mando do governo Dilma do PT são exemplo emblemáticos da perenidade dessa política de “purificação racial”.

Os trabalhadores de maneira geral precisam ter clareza de que o racismo não é ahistórico e nem muito menos flutua acima das classes sociais, o racismo é uma ideologia orgânica do capital, portanto, a luta pela sua eliminação deve ser combinada com a luta pela destruição do capitalismo. Para isso é necessário que os explorados e oprimidos se organizem de maneira autônoma e independente do Estado, da burguesia e das organizações de direita.



por Hertz Dias

Fonte: PSTU Maranhão

7 comentários:

Anônimo disse...

Cara,vai procurar um psicólogo!!!

Anônimo disse...

E você precisa procurar se informar, pois o Monteiro Lobato foi um racista camuflado.
Adorei o blog.

Richard Christian disse...

racstas nunca gostam de informação.

Anônimo disse...

Quem chama Lobato de racista simplesmente nao leu Lobato. O fato de um escritor compor um personagem racista não o torna racista.
QUEM CHAMA LOBATO DE RACISTA NÃO LEU E LOBATO E NÃO ENTENDE SOBRE COMPOSIÇÃO FICCIONAL E CONJUNTURA DE CRIAÇÃO TEXTUAL.
Não leu Lobato porque não conhece o conto "A negrinha". Talvez o mais triste texto já escrito em língua portuguesa em que descreve os resultados da negação ao direito de serem crianças aos miúdos pretos e pardos do Brasil.
Quem chama Lobato de racista camuflado não percebe que este homem conseguiu dar conta das mais tênues formas de ser racista no Brasil, dentre elas, a mesma que orientou o texto acima escrito: este sim, um racismo disfarçado: o da afirmação excçusiva de indentidade.
Quem chama o Lobato de racista não leu a "reforma da natureza" em que a Emília - a mais encantadora boneca de todos os tempos, criança e por isso extremamente cruel; é descrita como uma criança negraaa.
Sim senhores, Emília era negra.
Quem chama Lobato de racista não leu o mesmo livro em que Lobato defende o direito À humanidade dos escravos.
Racista disfarçado MONTEIRO LOBATO somente é para oa racistas do movimento negro que tornam-se a cada dia mais pragmáticos ,à moda americana e menos estudiosos, muito diferentes de Lobato.
FRANCAMENTE, VÁ LER MONTEIRO LOBATO. SENÃO OS CONTOS ADULTOS, AO MENOS A LITERATURA INFANTIL E FICARÁ CLARO O QUANTO LOBATO NÃO ERA RACISTA.
Quem chama Lobato de racista ignora história, a condição relacional de toda composição literária. A conjuntura da época e o fato de a EMília ser personagem de ficção. Oras, não posso compor um personagem de ficção racista?
Gostaria de ver um argumento, estudado, relacional e não pragmático aos moldes grosseiros norte- americanos comprovando que Lobato era racista. Não existem!
Mas eu tenho muitos argumentos - PORQUE LO LOBATO - provando claramente que ele não era racista.
Racista é qualquer um que acredita que os códigos da cultura são transmitidos pela cultura e descendência que não socialmente.
Senhor Richard o senhor não leu MONTEIRO LOBATO.
LEIA A REFORMA DA NATUREZA E POR FAVOR, COMO BOM NORDESTINO QUE É O QUE TAMBÉM SOU: PEÇA DESCULPAS AO HOMEM MAIS BRILHANTE DA LITERATURA INFANTIL DAS AMÉRICAS E A MIM TAMBÉM.
Como mulher negra sinto-me ofendida por ver tão absurdo argumento.
Basta ler um único livro e veremos Tia Anástacia convocada para dar conselhos em Europa sendo uma dentre as duas pessoas capaz de apaziguar os conflitos de 1939. Ela é xingada por Emília, quem também é negra,? Sim! Mas á ficção. Há sujeitos racistas no mundo e é fundamental que a ficção os represente como documento relacional com as paisagens cotidianas.
Não podem ser ignorados! E Emília fustiga, implica, ameaça e manipula a todos. É simplesmente a personagem mais conflitiva e mais bela de Lobato. Sem falar que ela xinga a Tia Anástacia e não diz nunca que "todos" os negros são macacos. Fundamento fundamental do racismo é o elemento da coletividade: todos os sujeitos sociais que tem origem natural negra são incapazes. TODOS NÃO CONSEGUIRAM MUDAR.
O xingamento individualizado refere-se ao sujeito em questão. Emília ofende o visconde, Pedrinho é burro, Dona Benta gagá, o Marquês fedido. Ela ofende a tudo e a todos porque é uma criança cruel, mesmo que encantadora.
Sua personalidade é conflitiva demais para poder ser determinada sem estudo apurado.
Acusar Lobato de racismo, sem ter lido sua obra, o que fica óbvio neste texto é absurdamente leviano.
Francamente, senhor Richard! Vá estudar...

Richard Christian disse...

quem acha que Monteiro Lobato era um "racista disfarçado" realmente precisa estudar. ele era assumidamente entusiasta do eugenismo e de outras doutrinas racistas de sua época, como fica bem explícito nas cartas pessoais expostas pela revista Bravo! há algum tempo (já que textos científicos certamente é esperar demais que um anônimo randômico leia).

Rosane disse...

Sim, Lobato era racista. Obrigada por confirmar o que eu já suspeitava.

Rosane disse...

Vcs encontram mais informações a respeito de Lobato aqui

http://www.cartacapital.com.br/revista/749/monteiro-lobato-racista-empedernido

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